sexta-feira, 27 de março de 2009

Testamento Barato

Meu sexo, deixo-o ereto e sujo de sêmen, e de bocas voluptuosas, pronto para outras bocas voluptuosas. Meu sêmen, deixo em forma de poesia, quente, feio e torto como um feto, que ainda assim está cheio de vida. Minha pele, deixo em forma de uma árvore seca e sem folhas, que espera a chuva, pronta pra renascer, dar frutos, exalar perfumes, segredos e desejos. Meus olhos, jogo-os no lixo, que se danem. Durante esse tempo todo eles estiveram vendados, cegos perante meus sentimentos, e por isso os julgo inúteis. Minha língua deixo guardada comigo. Confesso que seus beijos e suas costas com sabor de pecado vão ser mesmo difíceis de esquecer. Minhas mãos deixo para crianças inocentes que ainda nem sequer imaginam que exista pudor e tesão por trás de dois humanos ditos apaixonados. Meus pêlos, pentelhos, deixo em forma de brisa, mansa e que afaga, procurando sempre um lugar pra repousar. Minha carne, meu coração e minha alma, peço, por fim, que sejam queimados com o fogo da mais profunda terra, até se reduzirem a pó. Depois, peço que esse pó seja jogado da mais alta montanha já escalada, e que o vento o espalhe para bem longe. É chegada a hora de alçar novos vôos, gozar novos horizontes e explorar novos corpos.

Nosso amor, aqui jaz!

Escrito por Rafael.