eu nunca soube muito bem distinguir o certo do errado, o bem do mal. É fato que algumas vezes estive convicta de uma ideia, mas logo depois já colocava em dúvida minhas certezas. E foi, fui sempre assim, pendendo para os dois lados, nunca caindo totalmente para algum. Nunca me prendi à nada, à absolutamente nada. Na verdade foram as coisas que me prenderam, e não eu a elas, como é de costume acontecer.
Pessoas, sentimentos, erros, memórias. Todas essas coisas tentaram por vezes fazer com que eu ficasse presa a elas. Cheguei a me perguntar em algumas situações se não seria ali o meu lugar, se não seria aquele o meu caminho. Mas sabe, eu descobri que eu não tenho uma estrada definida. Meu caminho é um campo aberto. Precisa ser assim, me desculpe.
Eu preciso ver muito mais, eu tenho tanta fome, eu tenho sede, eu preciso respirar a vida. Queria que a senhora entendesse que eu sou só um corpo, mais um corpo procurando minha alma pelo mundo. Preciso encontrá-la logo. Por isso tanta ansiedade. Não quero ser um corpo sem alma, mamãe.
Pode ser que eu esteja errada mais esta vez, ou que eu desista e me perca no meio do que eu estiver fazendo. Mas me deixe tentar! Não faça comigo como tantas memórias, tantos erros, tantas outras pessoas fizeram. Não me prenda! Eu não posso estar presa. Presa eu morro, mas me solte que eu renasço.
Não brinque com meus pensamentos confusos. Não faça de mim qualquer pedaço da sua casa. Entenda minha necessidade, quase vital. Não me faça parar.
Apesar de pender sempre para os dois lados, e às vezes nem escolher algum, mamãe, o meu coração, é, disso eu sei. O meu coração vai estar sempre guardado com a senhora. Ele não precisa ser solto, ele precisa estar seguro.