domingo, 24 de maio de 2009

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Hoje consegui estancar a hemorragia. Ou será que foi ontem? O sangue que já perdi, com toda certeza me fará falta, mas meu corpo se empenhará para repor e compensar a perda. Senti um pouco de dor, não sei se pela ferida, ou por ver que eu perdia parte de mim.
Ver todo aquele sangue, indo embora num tom forte. Meu sangue é grosso. As gotas que me escorreram pelo corpo caíram na calçada e as marcas ainda estão lá. Só não consigo é me lembrar se foi hoje ou ontem que a hemorragia parou. Não importa.
Agora não perco mais pedaços de mim por aí. A ferida ainda está aberta, em carne viva. Dói só de olhar. Mas é só uma ferida, e mais cedo ou mais tarde ela precisa fechar. Caso ela não se feche, eu morro. Morro consumida por toda a dor e todos os problemas que a ferida me trouxe. Ela vai se fechar.
Mas me atrai a possibilidade de morrer. Caso eu consiga renascer serei outra. Mas também, eu gostaria muito de ter a cicatriz, lembrando o tanto que um dia sangrei.
É estranho porque falo como se as coisas estivessem em minhas mãos. Mas não, elas não estão.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

(...)

Hoje eu acordei triste. Trata-se de um vazio, proveniente de uma falta. Embora sempre há de faltar algo, nenhuma falta me entristece tanto quando a falta de você. A falta vem sempre com o vazio. O vazio é impalpável e invisível. Assim como tú és para mim.

Abertamente falando, nem sei qual o seu nome, sexo ou telefone. Isso é so para se ter noção do quão grande é esse vazio. Sinto a falta de alguém que nem sei quem.
Melhorando, me falta amor.

Procurei por diversos lábios, porém nenhum deles pertencia a você. Nenhum deles foi capaz de me arrancar suspiros. E saiba que não foram poucos. Se eu ao menos soubesse qualquer informação sobre você, facilitaria as coisas. Porém, com o amor não há regras, e não é porque gosto de samba que vou te encontrar no carnaval.

Eu só acho que, em se tratando do meu amor, tenho todo direito de tê-lo em mãos. Mas para que ele seja meu, antes disso ele tem que ser seu. Então, me dê logo seu amor. Um daqueles que derruba o ser humano a quarenta graus de febre, e o tira dessa sem sequer um comprimido.

Não precisa ser perfeito, basta ser meu, sendo seu. E assim sendo, que só me falte palavras. que não falte mais nada, além das palavras. Palavras e gestos para poder dizer,
que eu amo, amo você!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Anatomia


Já não me lembrava como é chato fazer uma prova de vestibular. O pior é te encontrar na saída e perceber o quanto me torno impotente diante da sua presença. Sou mil vezes fazer mais cinquenta equações matemáticas! Diante de você não me aparecem alternativas. És uma questão aberta, onde as palavras tentam organizar uma resposta que vem da cabeça, na qual nada se compreende, não faz o menor sentido. A questão fica em branco.

Tens um que de tesão, um tê de 'quero te mostrar mais'. E ao contrario do que estudos do corpo humano explicam, não me ocorre nenhuma ereção. Apenas perco a fala e sigo em frente. Fico de queixo caido. Nem a física sabe me dizer que força é essa. Um bobo do texto de literatura. Posso ler milhares de livros que não compreenderei do que se trata esse assunto. Vou entender como meu pau funciona, como o meu coração bate, mas tão pouco entenderei o que desespertas em mim. És um mistério. E não me recordo de me combrarem isso em nenhuma prova. Mistério combina mais com cinema, filmes de suspense. Sempre esperando algo que pode acontecer, e nem sempre acontece. Odeio ficar esperando, prefiro mil vezes viver um romance.
Com você, ou não.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Mamãe,


eu nunca soube muito bem distinguir o certo do errado, o bem do mal. É fato que algumas vezes estive convicta de uma ideia, mas logo depois já colocava em dúvida minhas certezas. E foi, fui sempre assim, pendendo para os dois lados, nunca caindo totalmente para algum. Nunca me prendi à nada, à absolutamente nada. Na verdade foram as coisas que me prenderam, e não eu a elas, como é de costume acontecer.
Pessoas, sentimentos, erros, memórias. Todas essas coisas tentaram por vezes fazer com que eu ficasse presa a elas. Cheguei a me perguntar em algumas situações se não seria ali o meu lugar, se não seria aquele o meu caminho. Mas sabe, eu descobri que eu não tenho uma estrada definida. Meu caminho é um campo aberto. Precisa ser assim, me desculpe.
Eu preciso ver muito mais, eu tenho tanta fome, eu tenho sede, eu preciso respirar a vida. Queria que a senhora entendesse que eu sou só um corpo, mais um corpo procurando minha alma pelo mundo. Preciso encontrá-la logo. Por isso tanta ansiedade. Não quero ser um corpo sem alma, mamãe.
Pode ser que eu esteja errada mais esta vez, ou que eu desista e me perca no meio do que eu estiver fazendo. Mas me deixe tentar! Não faça comigo como tantas memórias, tantos erros, tantas outras pessoas fizeram. Não me prenda! Eu não posso estar presa. Presa eu morro, mas me solte que eu renasço.
Não brinque com meus pensamentos confusos. Não faça de mim qualquer pedaço da sua casa. Entenda minha necessidade, quase vital. Não me faça parar.
Apesar de pender sempre para os dois lados, e às vezes nem escolher algum, mamãe, o meu coração, é, disso eu sei. O meu coração vai estar sempre guardado com a senhora. Ele não precisa ser solto, ele precisa estar seguro.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Ou vice-e-versa

Gosto de chegar em casa e te achar assim, no sofá. Despretensioso, coxas de fora, barba feita e um livro nas mãos. Ao fundo pode se ouvir, baixinho, o rádio ligado. Desabotoo minha camisa e me apoio em seus ombros. Gosto de sentir suas mãos - que já não seguram mais o livro - passeando pelo meu peito. Arrepeio a cada mordida que, delicadamente, dá em minhas orelhas. Gosto de te observar cozinhar. Aguá ferverndo, você de frente pro fogão me exibindo as costas. Até que eu perco o controle. Te abraço por trás e beijo sua nuca. Gosto de como me conduz até o chuveiro, do cheiro do sabonete que ensaboa meu pênis e de como você esfrega a toalha, parte por parte, em meu corpo. Gosto de ter você assim, pelado, tarado. De me perder em seus braços e me afogar no branco desse lençol. Gosto, gozo.

Gosto de acordar cedo, entre suas pernas, e ir trabalhar só pra mais tarde te achar no sofá. Gosto de te observar cozinhando. depois, comer sua macarronada e jantar você.